Hipnose ganha espaço no controle da dor e tem eficácia comprovada por novas pesquisas

Estudos da American Psychological Association e da Stanford Medicine mostram que o estado hipnótico altera a percepção cerebral da dor. O pesquisador Felipe Gonzalez, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), explica como o método pode auxiliar em casos agudos e crônicos

Durante muito tempo, a hipnose foi cercada por mitos e desconfiança. Hoje, com o avanço das neurociências, ela é reconhecida como uma ferramenta clínica e cientificamente comprovada para o controle da dor, da ansiedade e de distúrbios do sono.

Pesquisas recentes da Stanford Medicine (2023) e da American Psychological Association (APA, 2024) mostram que o estado hipnótico provoca mudanças reais nas áreas cerebrais ligadas à percepção da dor, reduzindo a atividade neural responsável pela sensação dolorosa.

De acordo com o hipnólogo e pesquisador Felipe Gonzalez, a hipnose é um estado de foco, imaginação e concentração — um estado comum e fisiológico da mente, que todos nós acessamos espontaneamente cerca de cem vezes ao dia. “Quando estamos absortos em um filme, concentrados em um pensamento ou imersos em uma lembrança, já estamos em um estado hipnótico”, explica.

Ele destaca que é importante diferenciar hipnose de hipnoterapia. “A hipnose é esse estado natural da mente. Já a hipnoterapia é o uso terapêutico desse estado para tratar causas emocionais e físicas, incluindo dores agudas e crônicas”, esclarece Gonzalez.

Nos quadros de dor aguda, a hipnose pode promover analgesia imediata. Em casos de dores crônicas, como a fibromialgia, o foco do tratamento é compreender a origem emocional e reprogramar a resposta cerebral à dor. “O estado de hipnose permite que o paciente aprenda a controlar a própria dor. Quando ele acessa esse estado sozinho, consegue reduzir tensão, relaxar e até dormir melhor”, diz o pesquisador.

A técnica também tem mostrado resultados relevantes em diferentes contextos clínicos, inclusive durante o parto, ajudando mulheres a vivenciarem o momento com menos dor e mais tranquilidade. “A hipnose é um recurso que pode ser usado até em situações como o parto, oferecendo um alívio significativo e natural, sem interferir no processo fisiológico”, comenta Gonzalez.

Atualmente, Felipe Gonzalez conduz um estudo pioneiro no HCFMUSP, em parceria com a equipe de Urologia, para avaliar a eficácia da hipnose na redução ou eliminação da dor em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos. “Os resultados iniciais são muito promissores e reforçam a importância de integrar a hipnose à prática médica, especialmente em protocolos que buscam minimizar o uso de medicamentos e promover o conforto do paciente”, afirma.

Para o pesquisador, o reconhecimento científico da hipnose representa um avanço importante na medicina moderna. “A dor é também uma experiência emocional. Quando entendemos que o cérebro pode ser treinado para mudar essa percepção, abrimos um novo caminho para o alívio, o equilíbrio e, em muitos casos, para a cura”, conclui Felipe Gonzalez.

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